segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Cinco pontos irritantes de ‘Amor à Vida’

Quem não suspeitou da desculpa que Leila (Fernanda Machado) daria ao ter fotos suas com Thales (Ricardo Tozzi) reveladas para Nicole (Marina Ruy Barbosa), às vésperas do casamento que ela armou entre a milionária moribunda e o próprio namorado, como estratégia para abocanhar a herança da pobre menina rica? Pressionada pela ex-governanta de Nicole, a quase histérica Lidia (Angela Rebello), Leila se saiu com a desculpa, já usada tantas vezes na ficção, de que havia visitado Thales a pedido do próprio, que armava uma surpresa para a noiva. Ok, novela tem lugar-comum. Mas, quando fica muito previsível, perde a capacidade de surpreender e emocionar. A não ser que a emoção buscada seja a raiva.
 

Também é difícil se emocionar com o tom exagerado de alguns personagens. Ao lado da médica amalucada Glauce (Leona Cavalli), que fala sussurrando e parece sempre prestes a sacar uma seringa da bolsa, a ex-governanta Lidia compõe o grupo das personagens à beira de um ataque de nervos. Quase histérica, ela gesticula nervosamente e vive afobada, convicta de que as suas teorias sobre a traição da ambiciosa Leila, apesar das poucas provas que reúne, são a verdade absoluta e confirmada por Deus.




Ok, uma novela pode ser fantástica como Saramandaia, que ganhou nova versão na faixa das 23h da Globo. Mas o texto tem de ter coerência interna. No caso de uma novela como Amor à Vida, que se propõe ao realismo, não faz o menor sentido colocar um personagen falando sozinho, porque ninguém faz isso na vida real. Pois a cena aconteceu, entre outras vezes, no capítulo da última terça-feira, 6 de agosto. Em uma conversa com Edith (Bárbara Paz), Aline (Vanessa Giácomo) descobre que César (Antonio Fagundes) quer a estilista de volta à sua casa não apenas para fingir um casamento de fachada com Félix (Mateus Solano), mas também porque os dois têm um grande segredo em comum. Aline se aproximou do médico e se tornou sua amante para vingar a própria família -- ela é sobrinha da mãe biológica de Paloma, Mariah (Lúcia Veríssimo) -- e obviamente quer saber de que segredo se trata, porque pode se valer dele contra César. Edith se nega a revelar e, depois de se despedir e sair de cena, Aline aparece falando sozinha. "Preciso descobrir qual é esse segredo." Artificial e desnecessário.
 

A novela menoespreza a inteligência do espectador em lances como esse. Ordália (Eliane Giardini) convence o filho Bruno (Malvino Salvador) a deixar a filha adotiva Paulinha (Klara Castanho) encontrar sua ex-namorada Paloma (Paolla Oliveira). O argumento é de que ele deve pensar na "felicidade" da garota. Bruno responde. "Está certo. Se é para a minha filha ser feliz assim, que ela seja feliz." Na sequência, Bruno e Paulinha se encontram. Ela corre, abraça o pai e declara, em uma repetição irritante: "Ai, pai, estou tão feliz". É tipo novela for dummies.
 

Outro recurso muito utilizado pela trama de Walcyr Carrasco é a elevação brusca e absurda da temperatura dramática. Na cena em que a médica Amarilys (Danielle Winits) tem um sangramento e deduz que perdeu o embrião implantado na tentativa de fazer dela a barriga de aluguel do casal gay Eron (Marcello Antony) e Niko (Thiago Fragoso), entra uma música de terror digna de O Massacre da Serra Elétrica. Parece que a médica vai morrer. Amarilys se ampara em um móvel do consultório e, como se tivesse um vislumbre do inferno, repete sem parar: "Ai, meu Deus, ai, meu Deus". A sequência também é tenebrosa: Amarilys aparece conversando com Laerte (Pierre Baitelli), o médico responsável pela fertilização assistida, e, enquanto se imagina dando a notícia a Niko e Eron, as lágrimas descem e um som como o de uma caixinha de música sobe. É de causar náuseas. As cenas de Paloma, que não à toa ganhou nas redes sociais o apelido de Pamonha, são outras trabalhadas no drama. Ai, ai.

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