quinta-feira, 8 de outubro de 2015

Assim como “Babilônia”, “A Regra do Jogo” sacrifica gay e ninfomaníaca

Com audiência abaixo da meta estabelecida pela Globo, “A Regra do Jogo” está imitando “Babilônia”, novela que a antecedeu na faixa das 21h e que também teve problemas com o Ibope. O autor João Emanuel Carneiro eliminou duas tramas também jogadas fora por Gilberto Braga, João Ximenes Braga e Ricardo Linhares. Ele desistiu de fazer do personagem de Eduardo Moscovis um gay enrustido, tal qual seria o de Marcos Pasquim em Babilônia. Também abriu mão de uma “devoradora de homens”, como seria a Beatriz de Gloria Pires. O autor reconhece as mudanças e as atribui ao fato de novelas serem “obras abertas”.
De acordo com a sinopse original de “A Regra do Jogo”, Orlando, o personagem de Moscovis, manteria encontros com um garotão em um apartamento. Na trama, porém, não há sinais de comportamento homossexual. Orlando, na verdade, esconde que abandonou uma mulher no interior de Minas Gerais. Nos próximos capítulos, Carolina Dieckmann entra na novela para viver Sandra, a abandonada, que não existia na sinopse.
A mudança no rumo do bandido lembra a de Carlos Alberto, personagem de Pasquim em “Babilônia”. A princípio, ele formaria um casal com Ivan (Marcello Melo Jr.). Depois que telespectadoras reclamaram em uma pesquisa, os autores decidiram fazer Carlos Alberto se apaixonar por Regina (Camila Pitanga).
Outra história de “A Regra do Jogo” que não está sendo explorada é o lado ninfomaníaco de Ninfa (Roberta Rodrigues). Assim como as “taras” de Beatriz, as dela podem acabar no esquecimento. A doença seria um drama da personagem. Mas, até agora, a dançarina não demostrou sinais de hiperatividade sexual. Na sinopse entregue à Globo e ao elenco da novela, ela faria jus ao apelido.
“Ninfa é uma messalina errática. Seu sonho é conseguir ter um relacionamento duradouro com Merlô [Juliano Cazarré], mas ela não consegue resistir aos apelos do sexo oposto e acaba indo parar na cama com homens que não largam da cola dela”, dizia o perfil inicial da merlozete.
João Emanuel Carneiro não nega que Orlando seria gay, mas evita detalhes. “Novela é uma obra aberta e o processo criativo é constante. A sinopse é um instrumento de trabalho que serve para nortear o autor. Pelo menos é assim para mim. Trata-se de uma ideia, um horizonte. Sobre o Orlando, ele sempre foi um homem frio, capaz de fazer qualquer coisa pela facção. Essa é a sua essência”, comentou por e-mail.
Em relação à personagem de Roberta Rodrigues, o autor também não nega mudança no perfil sexual. Revela que o drama da tara virou paixão. “Ninfa, em quase todas as cenas, ela e Merlô só falam em namorar. A trama é extremamente sensual. Ela só pensa nisso quando está perto do funkeiro”, desconversa Carneiro.
Em nenhum dos casos, o novelista sinaliza se pode retomar os temas que propôs na sinopse de “A Regra do Jogo”. Ele trabalha na criação da trama há mais de dois anos. A sinopse com Orlando sendo um gay enrustido foi feita antes de o público pedir aos autores de Babilônia que o personagem de Marcos Pasquim virasse heterossexual.
O fato de o mau-caráter de Eduardo Moscovis ser gay gerou repercussão antes mesmo de “A Regra do Jogo” entrar no ar. Em entrevistas, o ator disse que aceitou voltar a fazer novela justamente porque o personagem “era muito diferente”. A última novela feita por Moscovis tinha sido “Alma Gêmea”, em 2005.
O perfil de Orlando na sinopse indicava que o executivo era de Niterói (região metropolitana do Rio de Janeiro), amigo de Romero (Alexandre Nero) desde a adolescência.
“O que ninguém, nem mesmo seus colegas no crime imaginam é que Orlando é gay enrustido e mantém um amante garotão num apê em Copacabana [zona sul do Rio de Janeiro]. Curiosamente, ele, para todos os efeitos, é um machão homofóbico e vive implicando com o enteado Cesário [Johnny Massaro], um heterossexual sensível e delicado”, descreve a sinopse.
Com o surgimento de Sandra, tudo indica que Orlando, ou melhor, Bira (seu verdadeiro nome), trocou o garotão de Copacabana por uma garçonete de uma cidade do interior de Minas Gerais. O nome de Carolina Dieckmann não constava no material de apresentação de “A Regra do Jogo” entregue à imprensa, em agosto. A entrada dela na trama é uma decisão recente.

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